KLM e os mistérios da aviação: como realizar o pouso perfeito?

17/11/2016 17:48

por Rafael Leick | B4T Comm
Imagens: Divulgação/KLM

Jacytan Melo Passagens | Sua próxima viagem começa aqui
- O pouso é uma das fases que exigem mais atenção em um voo. O procedimento para aterrissar é uma das primeiras coisas que os pilotos aprendem durante a sua formação, logo depois dos controles de voo e técnicas básicas de recuperação.A KLM, sempre tentando esclarecer os mistérios da aviação, adoraria descrever com precisão uma aterrissagem perfeita, mas não é assim tão simples, porque a prática requer uma série de cuidados. O pouso perfeito não existe, então, o melhor que pode ser feito, em todos os casos, é uma aterrissagem ótima e segura. O piloto da KLM, Jonathan Franklin, juntou 5 dos elementos essenciais para um pouso bem executado e, por consequência, seguro.

1- Um pouso suave pode não ser, necessariamente, um bom pouso

Uma das grandes falácias da aviação é que um pouso suave é um bom pouso. Isso nem sempre é verdade. Mesmo sendo mais confortável para os passageiros, a menos que as condições estejam perfeitas e a pista seja longa, um pouso suave pode ser algo ruim. A aterrissagem é a primeira oportunidade que temos de despejar toda energia cinética que mantém a aeronave no ar.

Se ela for muito suave, o avião ainda estará meio que voando, então ele deve ser controlado com ainda mais atenção, levando mais tempo para dispensar a energia restante através de frenagem durante um comprimento limitado de pista. É também melhor para o trem de pouso, pois uma aterrissagem suave vai raspar o ponto inicial de contato dos pneus ao longo da pista antes do atrito girar as rodas na mesma velocidade da aeronave. Surpreso? Calma que só estamos começando!

2- Pistas molhadas necessitam de um pouso “positivo”

Mais uma vez, a menos que seja muito longa, se a pista estiver molhada, é importante fazer uma aterrissagem “positiva”. Isso significa que o piloto deverá realizar um pouso firme na pista. Por conta da velocidade do pouso (geralmente entre 220 e 280 km/h), a água da pista não consegue se dispersar por baixo dos pneus em um pouso suave, e o trem de pouso vai patinar na superfície da água, em um fenômeno conhecido como aquaplanagem. Sim, aquele mesmo que acontece com os carros nas ruas em dias de chuva.

3- O pouso não termina até que você tenha reduzido o avião à velocidade de taxiamento

Pode ser que você já tenha vivido uma situação em que, assim que a aeronave toca o asfalto, as pessoas ficam eufóricas e até aplaudem. Mas, por incrível que pareça, esse não é o fim do pouso. Apesar de ser raro qualquer coisa dar errado depois que o avião toca o solo, é preciso levar em consideração que ele ainda está em alta velocidade. Qualquer rajada de vento mais forte, por exemplo, pode causar mudanças bruscas. É por isso que, quando o avião pousa, o piloto ainda utiliza os controles de voo para manter a aeronave centralizada e colada na pista até estar em uma velocidade bem mais reduzida.

4- O freio do trem de pouso é a forma mais eficaz de reduzir a velocidade do avião durante o pouso

Muita coisa acontece logo após o pouso. Os spoilers (mecanismo de redução de velocidade) se abrem nas asas para funcionar como “quebra vento”, os pilotos engatam o impulso reverso do motor (desviando o ar que passa pela turbina, fazendo com que ele saia pelos painéis que se abrem ao longo dela) e assim que a roda dianteira também estiver no chão, é possível sentir os pilotos acionando os freios das rodas principais. Ufa!

Das três coisas, são os freios que fazem a maior diferença na redução da velocidade do avião. O impulso reverso do motor e os spoilers são úteis nos primeiros segundos da aterrissagem antes da parte da frente da aeronave tocar o chão, já que eles usam a força da corrente de ar que se forma por conta da alta velocidade. Mas depois que o avião fica mais lento na pista, eles rapidamente se tornam menos efetivos. Então, depois que a parte da frente toca o solo, o maior trabalho é do trem de pouso principal.

5- Pouso em piloto automático ainda precisa de um humano

Um dos mitos mais engraçados é que os pilotos são preguiçosos e utilizam o piloto automático o tempo todo, mesmo durante a aterrissagem. Isso está longe de ser verdade, porque mesmo que as aeronaves sejam capazes de pousar “sozinhas”, o piloto automático só deve ser utilizado em condições de má visibilidade, como em situações de neblina e nevoeiro. Na verdade, as limitações do vento no pouso são drasticamente reduzidas com uma aterrissagem automática, então, temos sorte que é muito raro estar nublado e com ventanias ao mesmo tempo.

O piloto automático utiliza algoritmos de controle com base em informações de rádios de navegação em terra e nos sensores de ar no avião. Não existe um sistema incorporado que seja capaz de prever ou antecipar eventos como o avião baixar rápido demais ou visualizar o caminho de uma rajada de vento pelo movimento da grama ao longo da pista.

Por isso, mesmo quando há um pouso em piloto automático, um dos pilotos ainda estará em guarda, reproduzindo os procedimentos que faria em controle manual para, no caso de acontecer algo indesejado, garante que o pouso será finalizado em segurança. A maioria das aterrissagens são quase sempre feitas manualmente por um dos dois pilotos.

Há muita coisa em jogo ao pousar um avião. É justo afirmar que essa lista é muito maior. Esses cinco itens costumam ser a principal preocupação para a maior parte dos pilotos (e passageiros). Talvez, na próxima vez que você voar com a KLM para um destino que tenha uma pista mais curta, você não se sinta tão mal pelo pouso não passar completamente imperceptível.
 

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